Duzentos xavantes ocupam fazenda em Alto Boa Vista
Índios cobram aplicação da decisão judicial para produtor devolver área
Cerca de 200 índios xavantes invadiram a fazenda Velho Oeste, no município de Alto Boa Vista (1.060 Km a noroeste de Cuiabá), localizada na terra indígena Marãiwatsede. Os indígenas, que ocupam o local desde a última segunda-feira, reclamam que parte da área estaria sendo arrendada para formar mais pasto. Os fazendeiros estão no local há mais de 40 anos.
O cacique Damião Paradzane disse que os índios continuarão na fazenda até que um representante do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vá até o local para conversar sobre a situação. “O dono está arrendando parte da terra para formar pasto e vendendo outras partes. Isso não pode ser feito”, declarou.
“Não são os índios que estão ‘criando caso’. Os índios querem que os fazendeiros respeitem a decisão da Justiça. Dividir e vender os lotes não é certo”, acrescentou Paradzane. Um representante do Incra deve ir até a fazenda ainda esta semana.
No entanto, um funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Ribeirão Cascalheira informou que a invasão também ocorreu por outros motivos. “Os índios reclamam que os donos [da fazenda] ficam mexendo com as índias e desmatando a mata de um córrego perto da aldeia”, disse ele, pedindo para não ser identificado. O coordenador regional da Funai, Denivaldo da Rocha, está na fazenda desde segunda-feira, ajudando nas negociações com os índios.
A “briga” pela terra indígena Marãiwatsede se arrasta há mais de 40 anos. A área tem 165 mil hectares (1,5 mil Km2) e fica na Amazônia Legal, entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Feliz do Araguaia. Marãiwatsede significa, no idioma xavante, mato fechado, mata perigosa.
Na década de 60 a Agropecuária Suiá-Missú ocupou a região e teria promovido a degradação do meio ambiente, diminuindo os meios de subsistência dos índios. Os nativos foram retirados e levados para a Terra iIdígena São Marcos, no sul de Mato Grosso. A operação envolveu o chamado Serviço de Proteção ao Índio (SPI), anterior à Funai, a Força Aérea Brasileira e a Missão Salesiana de São Marcos. A Marãiwatsede foi devolvida aos xavantes na década de 90, mas antes que pudesse ser regularizada, sofreu invasões de posseiros. As brigas na Justiça começariam anos depois.
Em novembro de 2010, o Tribunal Regional Federal reconheceu o direito dos índios xavantes à Terra Indígena Marãiwatsede e considerou a posse de todos os seus ocupantes de má-fé e sobre bem imóvel da União. No entanto, mesmo com a decisão, a área não foi desocupada.
Fonte:Diário de Cuiabá